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Arquitetos: Nicolas Aranguiz
- Área: 224 m²
- Ano: 2011
Esta casa se localiza na zona rural de Puerto Varas, sul do Chile, em um terreno de 50 x 100 metros cercado por um bosque nativo e atravessado por um riacho.
Um dos objetivos principais foi encontrar a forma de implantar a casa no bosque, respeitando e incorporando o riacho como um elemento natural destacado dentro da paisagem.
De acordo com a topografia do terreno, buscou-se uma maneira de conectar as duas margens do riacho, que têm uma diferença de 2.5 metros de altura, através de dois volumes (duros, de concreto) unidos por um bloco (transparente, leve, permeável) em forma de ponte.
Dessa forma respeitaríamos o leito do riacho e o bosque conservaria sua continuidade. Outro desafio importante foi alcançar o isolamento e luminosidade necessários dentro de uma área que está contida pelo bosque e sua sombra. O volume principal se coloca transversalmente em relação ao percurso do sol.
Para alcançar este objetivo, o elemento de ligação entre os dois blocos que abrigam o programa público é formado por uma estrutura iluminada e permeável, permitindo a entrada de luz durante o dia todo e insolação direta ao amanhecer, parte da manhã e entardecer.
O programa mais privado se integra em um volume perpendicular sobre o principal em sentido leste-oeste, recebendo portanto a maior quantidade de luz durante o dia. Para obter e garantir luz direta sobre o espaço público perfurou-se a cobertura e projetou-se uma claraboia que permite aproveitar a maior quantidade de luz e calor direto do sol. O principal desafio de projeto foi conseguir uma estrutura de ponte de 12 metros de vão entre apoios sobre o riacho a um baixo custo que abrigasse um programa público, amplo, aberto e contínuo.
Foi construída uma série de armações com seus encaixes e sistema construtivo à vista, criando um jogo na fachada e no interior da casa. O resultado deste espaço é um ambiente acolhedor e iluminado onde o usuário pode estar inserido no bosque. A estrutura secundária, necessária para enrijecer a estrutura em caixa deste volume, foi projetada como a principal, com base em reforços e paredes expostas que marcam sutilmente os usos distintos exigidos pelo programa, sem cortar as relações visuais.
Outra exigência de programa foi um percurso linear entre os dois acessos da casa, um que recebe a chegada a partir da rua, como acesso principal, e outro que conecta as residências familiares vizinhas, de modo que a ponte tenha uma função específica em termos funcionais.
Aspectos técnicos: os três materiais principais utilizados foram concreto armado, vigas e peris de aço e madeira reciclada de Laurel.
Os blocos que sustentam o volume principal são de concreto armado, têm uma base de 5.50 x 5.50 m. O do norte contem o acesso principal pelo térreo e alcança o nível – 2.80 de base, define externamente o fechamento da ponte e alcança o nível +2.40 m. O outro extremo suporta e fecha o volume principal de -0.40 a +2.90 m. O volume principal mede 22.00 m de comprimento e 5.50 m de largura por uma altura de 2.80 m. A ponte é sustentada por três vigas IN de 12 m de comprimento ancoradas aos blocos de concreto.
Para este projeto foram utilizados apenas materiais sustentáveis, a madeira usada tanto na estrutura externa à vista quanto na estrutura e nos forros foi recolhida de uma casa em demolição. Foi necessário projetar cada encaixe para garantir sua integridade estrutural, fixação e impermeabilidade. O processo de elaboração de cada uma delas foi artesanal, uma a uma.
A estrutura interna é montada da seguinte maneira: no sentido oposto às vigas principais IN foram instaladas vigas de aço tubulares de 250 x 100 x 4 mm. As extremidades destas vigas se apoiam em ambos os lados em pilares duplos de Laurel de 5”x10” x 3.00 m de altura, que na parte mais alta sustentam vigas de Laurel de 6” x 10” x 6.90 m. Esta estrutura define a base da espacialidade do volume principal. Foi necessário projetar a modulação do espaço tomando como ponto de partida as dimensões das vigas recicladas existentes.
Tanto as vigas de piso de aço quanto as de cobertura de laurel passam do interior ao exterior por uma série de encaixes impermeáveis, já que os pilares duplos e principais da fachada são externos. A linha interna é deslocada a cerca de 60 cm dos pilares duplos. A linha de janelas é definida por uma base modulada por um pilar secundário da mesma madeira que conforma as armações que sustentam as janelas. Em geral os revestimentos internos e o piso são também de laurel reciclado, em dimensões distintas.